Opinião | Como Trump afeta a independência do Fed: Análise e Implicações

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O Wall Street Journal publicou ontem uma reportagem que, se confirmada, tem potencial bombástico em seus potenciais efeitos. Os repórteres Andrew Restuccia, Nick Timiraos e Alex Leary relatam que aliados do candidato a presidente Donald Trump estão preparando um plano para reduzir a independência do Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) caso o republicano vença as eleições presidenciais deste ano.

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A ideia inclui que Trump seja "consultado" sobre mudanças na taxa básica de juros (Fed Funds), que hoje são determinadas de forma autônoma pelo Fed, como ocorre na maior parte dos bancos centrais sérios no mundo (e o Fed foi pioneiro nisso). Das propostas também constam revisões pela Casa Branca de regulações determinadas pelo Fed, e o Departamento do Tesouro atuando como contrapeso a decisões do BC norte-americano.

As Propostas Polêmicas e Suas Implicações

Para quem acompanha política econômica e conhece a história do Fed, essas sugestões parecem estapafúrdias, quase irreais - aquele tipo de proposta radical que surge em campanhas eleitorais mas que "não é para levar a sério". E é verdade que a independência do Fed já foi ameaçada algumas vezes, normalmente em iniciativas partindo mais do Legislativo, mas na prática nem foi arranhada.

Como Isso Afetaria a Economia?

O problema é que Trump é um político que não só diz, como faz coisas impensáveis. Se vitorioso este ano, os mercados devem apertar os cintos para fortes emoções, por inúmeros motivos. No caso específico do Fed, um recente relatório dos economistas Ryan Sweet e Bernardo Yaros, da consultoria Oxford Economics, indica que o terreno pode vir a ser propício para conflitos entre o eventual presidente republicano e o BC dos EUA.

Cenários Econômicos sob um Segundo Mandato de Trump

O título do relatório é "A economia de um segundo mandato de Trump", e, no trabalho, os dois economistas formulam dois cenários econômicos com a volta do republicano à presidência dos Estados Unidos. O primeiro é "Trump limitado", e, obviamente, refere-se à hipótese em que os ímpetos do potencial presidente são parcialmente contidos. O segundo cenário é "Trump pleno (a palavra em inglês é "full blown", difícil de traduzir)", e indica uma situação de poucas amarras a um novo mandato de Trump.

Impacto na Inflação e na Política Fiscal

No cenário limitado, Trump prolonga cortes de impostos pessoais de 2017 (que iriam expirar), com um Congresso dominado pelos Republicanos, aumenta os gastos e usa os poderes do Executivo para reduzir a imigração e elevar tarifas de produtos da China e da União Europeia (UE).

Já no cenário "pleno", na área fiscal e tributária, além do descrito no cenário limitado, Trump faz novas reduções de impostos, desta vez para empresas, e os gastos sobem ainda mais. A redução da imigração é mais drástica e tarifas são elevadas de forma generalizada para importações dos principais parceiros comerciais.

Consequências Econômicas Previstas

Segundo os autores, um dos grandes problemas em ambos os cenários - e, naturalmente, mais no pleno do que no limitado - são as consequências dessas medidas na inflação. A política fiscal mais estimulativa, as tarifas mais altas e a redução da imigração (que aumenta o aquecimento no mercado de trabalho) são um coquetel inflacionário.

No horizonte de 2027-2028, no cenário limitado, a medida preferida de inflação do Fed (o deflator do consumo das famílias no PIB) ganha 0,3 ponto porcentual (pp) a mais. E o PIB nível do PIB sobe 0,6pp. Nesse caso, os autores preveem que o Fed desacelere o previsto (e ainda não iniciado) ciclo de redução dos Fed Funds em 2026 e o interrompa em 2027.

O Papel do Federal Reserve

O cenário pleno é pior. A inflação sobe mais e as guerras comerciais mais do que compensam, pelo lado negativo, o impulso fiscal, de forma que o PIB perde 1,8pp. Os autores preveem que, mesmo com a freada da economia, o Fed focaria na inflação elevada e reduziria o ritmo e interromperia o ciclo de cortes dos Fed Funds em 2026-27.

O que se nota em ambos os cenários é que o Fed provavelmente agiria para contrabalançar os desequilíbrios causados pelo mix de políticas de Trump, reduzindo menos os juros do que no caso em que o republicano não fosse eleito e nada disso acontecesse. Mas essa suposição considera, evidentemente, que o Fed mantenha sua independência, porque obviamente aquele curso de ação por parte da autoridade monetária não iria agradar nem um pouquinho o populista instalado na Casa Branca e sua base majoritária no Congresso.

Conclusão e Considerações Finais

O que, evidentemente, torna mais preocupante a notícia do WSJ sobre alegados planos de aliados de Trump para minar a independência do Fed.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras ([email protected])

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 26/4/2024, sexta-feira.

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Por /Fernando Dantas


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